VÍNCULO EPIDEMIOLÓGICO DESCONHECIDO: ESTOU NA “BÁNFULA”

Chegamos num ponto tal que já não interessa o real significado das palavras, nem tão pouco a margem dada pela semântica para sua interpretação baseada no contexto do seu pronunciamento.

Importa sim e, apenas, a sua ressignificação política para permitir a sua “entrada triunfal” no léxico (angolano). Uma entrada que valoriza mais a “encobertura” da verdade” que a tradução da real situação ou estágio da pandemia em Angola.

Há alguns dias perguntei alguma coisa a um sobrinho (o Saímy) que estupefacto com a minha ignorância a propósito do assunto respondeu indagando-me:
-Oh, o tio não sabe?
_Não sei, disse-lhe.
_Oh! O tio está na BÁNFULA, retorquiu desatando do seu rosto, com pouco mais de 15 cacimbos percorridos, gargalhadas altas e com sabor a gozo.
Só lhe olhei.
(…)

Nas últimas semanas o tal ESTAR NA BÁNFULA, no linguajar da miudagem, piorou em mim.

“Derrepentemente” ouço o Secretário de Estado da Saúde, Franco Mufinda, a pronunciar repetidas e “irritantes vezes” as palavras, expressões eou termos:

1. VÍNCULO EPIDEMIOLÓGICO DESCONHECIDO;
2. VÍNCULO EPIDEMIOLÓGICO NÃO IDENTIFICADO
3. VÍNCULO EPIDEMIOLÓGICO EM ESTUDO.

Como não conheço os neologismos da medicina moderna, então fazem-me espécie estes pronunciamentos.

Esta quarta-feira, 1 de Julho, na habitual Conferência de Imprensa no CIAM- Centro de Imprensa Aníbal de Melo- o Secretário de Estado da Saúde voltou a tocar no assunto, “traduzindo” para audiência o significado das palavras, expressões ou termos acima enumeradas, que na sua “ideia” significa que ainda não temos casos de Contaminação Comunitária de Covid-19, uma vez que o número de infectados (com os NEOLOGISMOS dele) são ainda insuficientes e inferiores ao que estabelece a OMS para que assim seja considerado.

Alachissomé! Este kota só piorou ainda mais a minha BÁNFULA.

Piorou de tal modo que até agora estou a pensar na nossa coragem de criar “com os olhos secos” novos conceitos POLÍTICOMEDICINAIS, que já faz história no pós-independência onde um registo notório, num passado muito recente, foi identificado com o surgimento da CONSTITUIÇÃO ATÍPICA em 2010.

É GIGANTESCA esta nossa coragem de SE APROVEITAR DA SEMÂNTICA para ressignificar as palavras e POLITIZAR A CIÊNCIA!

No nosso laboratório criativo não se INVENTAM, NEM se CRIAM analgésicos, antibióticos ou outros fármacos mesmo até para matar kassumuna. Mas para criar PALVRAS ou fazer “desvios conceituais”, diria a Joana, avó do Saímy, ESTAMOS NAS CURVAS.

VÍNCULO EPIDEMIOLÓGICO DESCONHECIDO

É preciso muita coragem para desafiar e DESVIAR a significação dos conceitos cientificamente elaborados e estudados até mesmo pelos “donos” do SARS COV-2

Vou “se preferir” e continuar na minha BÁNFULA prevenindo-me de todos os modos possíveis que discutir a existência ou não de CONTAMINAÇÃO COMUNITÁRIA do CORONAVÍRUS em Luanda. Seria como tentar descobrir os órgãos genitais de um anjo cuja nudez nunca passou pela minha retina, nem de raspão.
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