A UNITA, maior partido na oposição, disse hoje “não estar surpreendida” com o posicionamento do deputado David Mendes, que no domingo anunciou abandonar o grupo parlamentar do partido, aceitando a sua desvinculação, mas contestando as “inverdades”.
“Enquanto grupo parlamentar da UNITA e direção não nos surpreendeu a decisão tomada pelo deputado David Mendes. Já há algum tempo que este deputado vem manifestando posições contrárias ao compromisso político assumido com a UNITA”, afirmou hoje o presidente do grupo parlamentar do partido do “galo negro”, Liberty Chiyaka.
Em declarações à Lusa, Liberty Chiyaka recordou que David Mendes, eleito deputado em 2017 após integrar a lista da UNITA, estabeleceu uma aliança eleitoral com este partido e que o mesmo “deveria ser leal ao compromisso que assumiu”.
“Quando identificamos que os interesses que nos levaram a estabelecer uma aliança eleitoral talvez tenham sido ultrapassados, talvez por uma questão de elevação política, moral e ética, devemos comunicar oficialmente à direção do partido com o qual estabelecemos a aliança a nossa indisponibilidade. Infelizmente não foi isso que aconteceu”, lamentou o político da UNITA.
O deputado David Mendes anunciou, no domingo, o seu afastamento do grupo parlamentar da UNITA por alegada censura aos deputados, feita supostamente pelo presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, e “falta de solidariedade” do partido por ter recebido, alegadamente, “ameaças de morte”.
David Mendes falava à TV Zimbo, agora na esfera do Estado, durante o espaço “Revista Zimbo”, onde uma semana antes já havia criticado a participação de membros da UNITA na manifestação de 24 de outubro, em Luanda, onde jovens protestavam por melhores condições de vida e pediam eleições autárquicas.
Mais de cem jovens, que se queixaram da “excessiva carga policial”, foram detidos e alguns condenados por crimes de arruaça.
Para Liberty Chiyaka, que recorda que David Mendes não é membro da UNITA, o também advogado “tem todo o direito” de tornar pública a sua decisão por via da imprensa, “o que respeitamos, mas não precisa de falar inverdades para buscar solidariedade pública”.
“Quero com isso dizer que, não é verdade a afirmação de que, da parte da direção do grupo parlamentar, na altura liderado pelo engenheiro Adalberto, e agora por mim liderado, teria havido indicações no sentido de se censurarem as intervenções dos deputados”, assegurou.
“O deputado David Mendes regularmente fala de improviso e não se pode evocar suposta censura”, realçou.
O líder parlamentar da UNITA rejeitou também qualquer tentativa de se responsabilizar a direção do seu partido pelas ameaças proferidas ao deputado David Mendes e que constam de um vídeo “que supostamente tenha sido a causa do seu afastamento”.
“Queremos uma vez mais reiterar a nossa solidariedade ao deputado David Mendes enquanto pessoa e angolano com direito à integridade física e rejeitamos quaisquer ameaças ou tentativa de violência para atingir qualquer pessoa que pense diferente de nós”, frisou.
Na entrevista à TV Zimbo, o deputado David Mendes garantiu formalizar esta terça-feira a sua desvinculação ao grupo parlamentar da UNITA.
A Lusa tentou hoje contactar o deputado, que em anos anteriores liderou uma força política denominada “Partido Popular”, mas tal não foi possível.
Segundo Liberty Chiyaka, “apesar de, até ao momento”, em que falou à Lusa, não ter recebido “nenhuma comunicação oficial” do deputado sobre o seu afastamento, “está terminada a ligação do deputado David Mendes ao grupo parlamentar da UNITA”.
“Ficou assim dito publicamente no domingo passado e (…), para nós, o processo está encerrado”, vincou.
“Queremos aproveitar a oportunidade para expressar o nosso agradecimento e reconhecimento pela contribuição que David Mendes deu enquanto foi membro do grupo parlamentar da UNITA e desejamos boa sorte as suas futuras opções”, sublinhou.
Questionado se doravante a UNITA vai olhar com maior atenção e cautelas às alianças que faz, o deputado Chiyaka afirmou que o seu partido se move por “valores e princípios, entre quais uma governação inclusiva e participativa”.
“Para Angola se erguer precisamos de ter uma governação inclusiva e participativa e a filosofia da UNITA de inclusão é para manter e não é por causa de uma pessoa que vamos colocar em causa as nossas convicções”, concluiu.
Fonte: Lusa