Presidente congolês veio a Luanda para apresentar, ao homólogo angolano, João Lourenço, o ponto de situação existente no seu país e o plano para a saída da crise que está a reinar neste momento na República Democrática do Congo.

O Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, solicitou, ontem, em Luanda, ao homólogo angolano, João Lourenço, apoio para o reforço da capacidade das forças de Defesa e Segurança do seu país.
Em declarações à imprensa, no final de um encontro com o Presidente João Lourenço, no Palácio Presidencial, Félix Tshisekedi referiu que veio a Luanda para apresentar, ao homólogo angolano, o ponto de situação existente no seu país e o plano para a saída da crise que está a reinar , neste momento, na RDC.
“Como sabem, desde que assumi o poder, tive o engajamento de deixar uma porta aberta com Angola, para nos podermos consultar permanentemente com vista ao reforço dos laços de amizade e de cooperação existente entre os nossos dois povos”, realçou.
O Presidente congolês disse esperar de Angola ajudas que possam garantir a estabilidade política no seu país, apoio diplomático e político e o reforço da capacidade das forças de Defesa e Segurança.
Félix Tshisekedi, que regressou ontem mesmo ao seu país, disse tê-lo feito com muita satisfação, por ter sentido que as propostas trazidas a Luanda foram acolhidas pelo estadista angolano.
“Parto daqui muito satisfeito, porque a posição que apresentei ao Presidente da República foi acolhida, bem como as minhas propostas”, salientou.
O estadista congolês acrescentou que o encontro serviu, ainda, para passar em revista as relações de cooperação existentes entre os dois países.
Neste aspecto, prosseguiu, as prioridades recaem sobre o sector de hidrocarbonetos e das infra-estruturas, mas acrescentou que a intenção é continuar a trabalhar para ampliar para muito mais sectores.
Encontro ministerial
Após o encontro dos Chefes de Estado, seguiu-se um outro ministerial, que contou, da parte angolana, com a presença do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Pedro Sebastião, do director do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, do chefe do Serviço de Inteligência Externa, Garcia Miala, dos ministros das Relações Exteriores, Téte António, e dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino de Azevedo.
Jogo Angola-RDC
O jogo entre Angola e a República Democrática do Congo, marcado para hoje, não passou ao lado do encontro de ontem.
Convidado a vaticinar o resultado do jogo, Félix Tshisekedi disse acreditar na vitória da sua selecção. “Desta vez, vou lamentar, contrariando o meu irmão, dizendo que, aqui, vamos bater Angola por 1-0”, acentuou.
A visita de Tshisekedi a Luanda acontece depois de o Chefe de Estado angolano ter recebido, na terça-feira passada, uma delegação congolesa chefiada por André Kambanda, ministro junto da Presidência.
Na ocasião, André Kambamba entregou ao Presidente João Lourenço uma missiva do homólogo da República Democrática do Congo.
À saída da audiência, o portador da mensagem, que se fez acompanhar do conselheiro para as questões particulares de Tshisekedi, Biselele Kayimpagi, do embaixador itinerante da RDC, André Wanesso, e de um outro conselheiro do Presidente congolês, Gaston Kambwa Kambwe, não revelou o teor da mensagem, mas adiantou à imprensa que a mesma visava o reforço das relações bilaterais.
Crise política na RDC
A crise política na República Democrática do Congo tem como pano de fundo os desentendimentos entre a coligação governamental que dirige o país, formada pelo CACH do Presidente Tshisekedi, e a FCC, dirigida pelo ex-Chefe de Estado, Joseph Kabila Kabange.
A situação passou para domínio público no dia 21 de Outubro, quando, ao conferir posse a três juízes do Tribunal Constitucional, Tshisekedi notou as ausências da presidente da Assembleia Nacional, Jeanine Mabunda, do presidente do Senado, Alex Tambwe Mwamba, e do Primeiro-Ministro, Sylvestre Ilunga Ilunkamba, todos pertencentes à plataforma política de Kabila, que mantém a maioria nestas três instituições. Segundo a Angop, na ocasião, o Chefe do Estado congolês, num discurso de seis minutos, revelou as divergências existentes e anunciou o início de consultas políticas, com vista a criação do que designou de “União Sagrada para a Nação”.
Ainda são desconhecidas as consequências que podem resultar desse processo de auscultação, que está em curso, mas o Presidente congolês deixou claro que “todos os cenários que estão na mesa são possíveis”.
Recorde-se que, por causa do desentendimento reinante, Joseph Kabila, chegou a endereçar mensagens musculadas a alguns Chefes de Estado e de missões diplomáticas acreditados em Kinshasa, prevendo possíveis consequências incalculáveis para o país.
O ex-Presidente da RDC remeteu, pessoalmente, cartas aos embaixadores da África do Sul, do Quénia e do Egipto, para os Presidentes dos respectivos países, que aponta como os garantes do acordo de coligação governamental FCC-CACH, bem como à representante da MONUSCO na RDC, que deve entregar o documento ao secretário-geral da ONU, António Guterres.
Joseph Kabila orientou o seu antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Léonard She Okitundu, a remeter as mesmas mensagens aos embaixadores de alguns países membros da SADC, tais como os de Angola, Zimbabwe, Zâmbia, Namíbia e Tanzânia, bem como ao núncio apostólico em Kinshasa.