Uma foto divulgada nas redes sociais, em que o médico Sílvio Andrade Dala aparece no chão com bastante sangue à volta da cabeça, levanta dúvidas sobre a versão original apresentada pela Delegação Provincial do Ministério do Interior em Luanda, segundo o qual, o médico pediatra após ter sido posto na cela começou a passar mal, desfaleceu e teve uma queda aparatosa.
Entretanto, o Sindicato Nacional dos Médicos de Angola contraria a versão da polícia, adiantando que depois da queda o médico foi alegadamente mantido na cela e horas depois foi encontrado morto
Um grupo de colegas do Hospital Pediátrico David Bernardino que se deslocou à referida morgue, acredita que o seu colega foi espancado, convulsionou e acabou por morrer na cela.
“O colega apresenta uma ferida incisiva, tipo corte na região occipital o que presumimos ter sido submetido a agressões e duros golpes de que resultou naquela ferida e abundante sangramento”, realça o sindicato.
Com base nesta nova evidência, o Ministério do Interior decidiu abrir um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do médico pediatra Sílvio Andrade Dala.
Em nota de condolências, distribuída este domingo, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, confirmou a instauração do inquérito e de um processo-crime que corre trâmites na Procurador Geral da República (PGR).
Conforme o governante, pretende-se aferir o que terá ocorrido na esquadra, antes de o médico ter sido socorrido para o Hospital do Prenda.
Segundo o ministro, todos os procedimentos estão a ser observados para se imputar as responsabilidades àqueles que, eventualmente, tenham relação directa com a ocorrência.
Eugénio Laborinho sublinhou que se pretende determinar, também, as motivações que terão contribuído para o “desencadear dos resultados concluídos na autópsia do corpo do médico”.
Para a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, também em nota de condolências, deve ser instaurado um processo-crime com vista a esclarecer as circunstâncias reais em que ocorreu a morte do médico, para responsabilização dos eventuais prevaricadores.
“O Ministério da Saúde reitera o seu firme compromisso para com a vida e a integridade física, psicológica e moral dos médicos e todos os outros profissionais de saúde, especialmente neste tempo particularmente desafiante em que são de facto a linha da frente no combate à Covid 19”, lê-se na nota.
Apela à comunidade médica e aos demais actores do sistema de Saúde calma e serenidade e a não se desmotivar na nobre missão de salvar vidas.
Versão da Polícia
O Ministério do Interior, num comunicado, informou que após ter sido retido por estar a circular na via pública sem máscara, o médico Sílvio Andrade Dala, foi encaminhado para à esquadra dos Catotes, no Rocha Pinto, onde lhe foi explicado os moldes de pagamento da multa e este, não tendo um terminal de multibanco nos arredores, telefonou a um familiar próximo para proceder ao pagamento da coima.
A nota adianta que o médico “minutos depois, apresentou sinais de fadiga e começou a desfalecer, tendo uma queda aparatosa, o que provocou ferimentos ligeiros na região da cabeça”.
“Devido ao seu estado grave, foi conduzido para ser socorrido ao Hospital do Prenda mas no trajeto acabou por perecer”, sublinha o documento, frisando que o Serviço de Investigação Criminal interveio, removendo o corpo para a morgue do Hospital Josina Machel.
Autópsia
O porta-voz do Ministério do Interior, comissário Waldemar José, informou este sábado (5), citando o médico legista encarregue da autópsia, que Sílvio Andrade Dala teve uma morte patológica.
Segundo o oficial comissário, citado pela Angop, a autópsia foi realizada na sexta-feira (4) e assistida por um membro da família e um procurador do Ministério Público (MP), sendo que o médico legista descartou qualquer possibilidade de as escoriações terem sido a real causa da morte, sublinhando que essa patologia, não revelada, esteve na base da morte do médico.