Está a tornar-se, cada vez mais recorrente, ver ou ouvir discursos que configuram a célebre empresária e filha do ex-presidente da república como alguém que merece uma certa trégua da justiça, em função do “bem” que conferiu a milhares de angolanos, ao criar muitos postos de trabalho e, com isso, ter ajudado o Estado a minorar o índice de desempregabilidade em Angola.
Devo ser franco e admitir que essa conversa torra-me a paciência e me leva sempre a dar o mesmo exemplo: imagine, caro leitor, se o seu pai deixasse a si e seu irmão uma cantina e o seu irmão tome posse dela, o coloca a trabalhar na cantina e dá-lhe, mensalmente, um bom salário. O seu irmão fez-lhe um favor? – Suponho que a resposta terá sido a mesma que a minha, não.
Com efeito, o caso da “mana Belita”, é, mais ou menos, parecido com isso. Todos os angolanos têm o direito a trabalho, e o Estado deve criar condições para tal, através de inúmeros meios que tem para o fazer. Neste caso, a empresária não fez nenhum favor a ninguém, apenas ao seu próprio bolso, aproveitando-se da gestão danosa do pai, ao colocar a mão no dinheiro público, sem qualquer legitimidade, para construir o “seu” império.
Por outro lado, vitimizar a também engenheira Isabel dos Santos, tal como diz a sua irmã, Tchizé, seria um acto de cobardia da Procuradoria-Geral da República, visto que transpareceria uma acção de favoritismo, por ser filha de quem conhecemos, e a lei não prevê isso. Os processos, quer do âmbito civil, quer do âmbito criminal, contra a empresária, devem proceder-se numa sequência de puro alinhamento com o estabelecido por lei.
Atenuar Isabel dos Santos daria a prorrogativa a todos outros infractores a apelarem pelo mesmo, incluindo eu, se tivesse furtado o Estado. Precisamos ter a cultura jurídica, que por força dos poderosos do outrora não chegamos a cultiva-la. As leis existem para regular o comportamento do homem em sociedade, então quem comete deve pagar.