Estádio da Tundavala renasce das “cinzas”

Depois de nove anos em estado moribundo, sem condições para a prática regular de futebol, o Estádio da Tundavala, erguido com fundos públicos, na província da Huíla, começa a “renascer das cinzas”, podendo voltar a reabrir ao público dentro de sete meses.

Construído no âmbito do Campeonato Africano das Nações (CAN’2010), a infra-estrutura desportiva deu sinais de “desgaste” pouco tempo depois da realização deste mega evento desportivo, com o relvado em estado lastimável e praticamente inoperante.

Inaugurado a 29 de Dezembro de 2009, passou por momentos de quase abandono, da parte das autoridades competentes, tornando-se, três anos depois, um “gigante com pés de barro”.

Neste período, acumulou problemas, fundamentalmente de manutenção, chegando, inclusive, a apresentar sinais de desgaste na estrutura e receios de um eventual desmoronamento.

No quadro de uma série de reportagens sobre as infra-estruturas desportivas no país, a ANGOP constatou que desde a sua inauguração, o Estádio da Tundavala já foi encerrado por três ocasiões, para a recuperação do tapete e outros aspectos técnicos, sendo que a última paragem já dura seis anos.

No período de abandono, conheceu casos quase insólitos, com destaque para o furto de um gerador, em 2015, que fragilizou ainda mais o sistema de rega da relva, abrindo caminho para o estado degradante do imóvel, agora em vias de ser “salvo”.

Até hoje não se conhece, publicamente, a abertura de qualquer processo-crime para averiguar as circunstâncias deste furto, sendo que, em Junho de 2018, o ministério de tutela disponibilizou dois novos geradores, com capacidade para 45 Kva’s cada, para repor a energia.

Entretanto, a história da recuperação do Estádio a Tundavala levou quase uma década, ante o olhar perplexo dos dirigentes desportivos, dos clubes, da massa associativa e dos adeptos, em geral.

Só a partir de Abril de 2019 a sua reabilitação começou a ganhar consistência, primeiro com a recuperação do sistema de rega e, mais recentemente, como o início das acções de renovação da relva, a fim de deixa-lo, novamente, apto para a prática de futebol.

A nova imagem decorre de um investimento do Ministério da Juventude e Desportos (MJD), que disponibilizou, em 2019, um total de AKz 40 milhões para a recuperação de todo o sistema de captação de água e rega desta infra-estrutura desportiva.

As acções incidem na reabilitação dos quatro furos de água que sustentam o sistema e a central de bombagem do líquido, já conectados à rede de distribuição pública.

Concluída a fase inicial (eliminação de ervas daninhas), a segunda etapa dos trabalhos de recuperação da relva decorre desde Julho último, com a remoção e substituição de parte da areia no piso, tratamento com fertilizantes e implantação de sementes.

Conforme o empreiteiro, este processo complexo de preparação, para a obtenção de um “tapete” novo, deve levar pelo menos três meses até o início da sua germinação, e mais quatro a cinco para ser dado como completo. Só depois disto, o palco do CAN’2010 volta a estar pronto para receber jogos.

Mobiliário vandalizado

Entretanto, não obstante os trabalhos em curso, ainda há problemas “bicudos” no imóvel, como a depredação da ala reservada à imprensa, do mobiliário e loiça sanitária, por cidadãos desconhecidos.

Outro problema pendente é a falta de pagamento de salários a 20 funcionários da área de limpeza e manutenção, que já se arrasta há quase seis anos, levando-os a abandonar os respectivos postos de trabalho, acrescendo, ainda mais, os problemas de gestão do imóvel.

Situado no sopé da Serra da Chela, bairro do Tchioco, o Estádio da Tundavala, orçado em USD 69 milhões e com capacidade para 20 mil espectadores, herdou o nome de um dos maiores destinos turísticos da província e do país (a sétima Maravilha da Fenda da Tundavala).

Edificado em quase um ano, numa área de 25 mil e 807 metros quadrados, comporta 20 casas de banho, igual número de salas Vip, duas subestações eléctricas, com capacidade para 15 mil kV (quilovolt), sala presidencial, ala de imprensa, quatro balneários, duas salas para técnicos e árbitros.

Possui ainda sete postos médicos para atendimento ao público, jogadores e convidados Vip, 14 lojas, restaurante e parque de estacionamento para 2.000 viaturas.

A iluminação da infra-estrutura está fixada em estrutura metálica, composta por 408 holofotes de dois mil watts cada, sendo que existem ainda salas de controlo e iluminação, compartimentos para a imprensa escrita, televisiva e radiofónica.

Trata-se, pois, de um importante recinto desportivo, de feliz memória para a Selecção Nacional de Futebol, também designada por “Palancas Negras”.

 Naquele espaço, Angola produziu resultados prestigiantes, como a vitória sobre os Camarões, por 1-0, em 2012, com golo de Mabiná, aos 55 minutos, em partida enquadrada na preparação para o CAN’2013, disputado na África do Sul.

Registou-se ainda a goleada sobre a Libéria (4-1), em Setembro de 2013, na corrida para o Mundial “Brasil’2014”, e triunfo diante da República Centro Africana (4-0), nas eliminatórias para o CAN’2017, decorrido no Gabão.

Numa visita efectuada àquele estádio, este ano, a ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, encorajou o diálogo aberto entre os gestores e dirigentes desportivos, visando a conservação das infra-estruturas degradadas.

Conforme a governante, não basta reabilitar, mas criar condições para uma manutenção constante após a sua revitalização, e evitar que voltem a apresentar problemas.

Antes de chegar ao actual estado, o Estádio da Tundavala devia ser contemplado com uma pista para a prática de atletismo, em 2013, mas não passou de mera intenção.

Em 2017, o então governador da província, João Tyipinge, orientou a direcção dos Desportos a elaborar uma proposta orçamental, visando a manutenção das infra-estruturas edificadas por altura do CAN’2010, Afrobasket’2007 e CAN de Andebol em 2008, mas o projecto não passou disto mesmo.

Degradação em “cadeia”

A degradação do Estádio da Tundavala, entretanto, não é um caso isolado na província da Huíla.

Na mesma condição estão os estádios da Senhora do Monte e do Benfica do Lubango, que também beneficiaram de investimentos públicos, tendo em vista a Taça das Nações que o país albergou há dez anos.

As duas infra-estruturas desportivas enfermam do mesmo mal, embora este último esteja a ser recuperado pelo clube que o detém.

Denominado 11 de Novembro, em saudação ao Dia da Independência Nacional, o Estádio do Benfica do Lubango (existe desde 1952) recebeu obras de restauro em toda a sua estrutura física e aplicação de um novo relvado, em 2009. Esta intervenção orçou em USD quatro milhões.

Já o Estádio da Senhora do Monte, entregue pela Administração do Lubango à gestão do Desportivo da Huíla, serve para tudo, menos para a prática de futebol.

Orçado em USD 12 milhões e com capacidade para seis mil lugares, tem albergado congressos religiosos. Até à data, nada se fez para a sua verdadeira recuperação.

Actualmente o único estádio em pleno funcionamento na província, e que também foi reabilitado na mesma ocasião, é o do Ferrovia da Huíla.

Todavia, a relva do Ferrovia também já clama por socorro, não sendo de admirar que em pouco tempo caia na mesmíssima coisa do “deixa andar”, jogando por terra importantes verbas do erário público.

Ainda assim, continua a ser a salvação do futebol na província da Huíla, sendo o palco do principal campeonato nacional, o Girabola.

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