Mais de 30 enfermeiros, que prestam a assistência médica às populações de 140 aldeias de duas comunas do município do Negage, na província do Uíge, em regime de contrato, decidiram paralisar os trabalhos, como forma de protesto pelo não pagamento dos subsídios há três anos.
Em declarações à emissora municipal da RNA no Negage, o enfermeiro António Paulo disse que os trabalhadores garantiram que “só voltam a prestar assistência aos pacientes tão logo seja regularizada a situação financeira”.
Com a paralisação dos enfermeiros contratados, a assistência médica é garantida nos postos de saúde localizados nas sedes comunais e na Vila do Negage. “Estamos à espera que nos paguem, pelo menos os subsídios de seis meses, dos três anos em atraso”, disse o enfermeiro António Paulo, considerando ser “constrangedor um chefe de família ficar durante muito tempo sem levar nada para os filhos”.
Alberto Mutima Gonçalves é o único enfermeiro em efectivo serviço no Posto de Saúde do bairro Missão, o mais populoso dos arredores da Vila do Negage. Sente-se abalado pelo facto de os colegas, que trabalham em regime de contrato, terem abandonado os postos de trabalho por incumprimento da entidade patronal, apesar de reconhecer ser legítimo a atitude dos profissionais.
Apesar de longo período sem subsídio, Alberto Mutima Gonçalves mostrou-se esperançado e acredita na resolução do problema que afecta os enfermeiros contratados, uma vez que os profissionais fazem muita falta na assistência de doentes do bairro. A paralisação dos profissionais obrigou o encerramento de muitas áreas essenciais na assistência médica das referidas localidades.
O encerramento dos serviços em quase todas as aldeias do município surpreendeu os populares. Maria Nkudi, que mora no Bairro Luzolo, disse ter levado o filho ao Centro de Saúde do bairro, mas encontrou as portas encerradas e, como alternativa, terá de se deslocar ao Negage, que dista a 32 quilómetros.
Os regedores das aldeias de Puma e Luzolo apelamàs autoridades municipais, provinciais e central na resolução do problema dos enfermeiros contratados, que têm prestado a assistência médica nas aldeias”. Lamentaram a situação vivida por estes enfermeiros, que estão há meses sem ordenados.
Autoridades desconhecem a paralisação
A chefe do Gabinete Provincial da Saúde e o administrador municipal do Negage reconheceram, ao Jornal de Angola, que está em falta o pagamento dos subsídios aos enfermeiros contratados, mas desconhecem terem abandonado os postos de trabalho.
“Desconhecia de que os enfermeiros, que trabalham por regime de contrato, decidiram partir para a greve, esclarecendo que se trata de um assunto da alçada das administrações municipais a relação jurídico-laboral destes profissionais”, disse a responsável da Saúde. Madalena Angelino Diogo informou que se trata de um assunto de âmbito nacional que afecta todos os trabalhadores da Saúde, que trabalham em regime de contrato, mas que já está a ser tratado pelo Ministério da Saúde.
Para a responsável, “a seu tempo terá a solução definitiva”, reconhecendo o trabalho valioso prestado pelos enfermeiros eventuais, sobretudo em áreas recônditas da província do Uíge, consideradas endémicas à malária, doenças diarreicas e respiratórias agudas, entre outras patologias.
O administrador municipal do Negage, Carlos Mendes Samba, reconhece que os enfermeiros contratados estão há três anos sem receberem os subsídios, mas alegou desconhecer a existência de greve dos profissionais de saúde contratados. “Não recordo que me tenha sido entregue um caderno reivindicativo, por isso continuo a pensar que os enfermeiros contratados estão a trabalhar normalmente”, disse o administrador do Negage.