Na sequência da cooperação no sector da educação, muitas instituições, quer públicas ou privadas, recorreram a países, como a Cuba, Portugal, Cabo verde e outros, para reforçar o corpo de docentes e/ou administrativos. Porém, muitas são as instituições que, por causa da Covid – 19, furtam-se das responsabilidades, incumprindo a risca o contrato que têm com professores expatriados, deixando-os em situações financeiras beliscadas.

A redacção do Pleno247News contactou alguns destes professores que saíram dos seus países para prestar o seu contributo à Angola, e a informação que obtivemos é, lamentavelmente, de arrepiar as pinhas de quem sente na pele o sofrimento alheio, visto que muitos destes estrangeiros, para ter que fazer alguma refeição, têm de ir se reunir em casa de conterrâneos, que trabalham também em outros ramos, para os conferir algum alimento.
Para salvaguardar a identidade e o emprego destes, usamos apenas nomes fictícios, como por exemplo Paulo Medina, de nacionalidade cabo-verdiana, professor efectivo do Instituto Superior Politécnico Internacional de Angola (ISIA), colaborador dos Institutos Superior Atlântida e de Serviços Sociais, este último do Estado,
“a situação é muito triste, temos que mendigar para comermos. As promotorias, nem o Estado angolano, nesse momento, não mostram qualquer interesse em reaver este problema que se agravou em Abril, uma vez que, pelo menos, no mês de Março recebemos apenas o salário no ISIA”, lamentou.
Numa condição pior que a do professor Medina encontra-se o engenheiro cubano Sanches Fernandez, que é efectivo na Universidade Óscar Ribas (UOR),
“não pagamos renda há muito tempo, muitos de nós já fomos despejados. Eu, com 45 anos de idade, casado, tive de ser convidado por um amigo cubano, médico, para morar com ele e a sua esposa. Compreendemos que as instituições não estejam a render como antes, mas estas mesmas instituições foram a nossa busca em Cuba para trabalharmos cá, então deviam arranjar algum jeito de, pelo menos, ressalvarem algumas das nossas necessidades. Se pudéssemos, voltávamos para a nossa terra hoje mesmo”, afirmou num tom chocantemente e de arrancar lágrimas.
A nossa reportagem apurou que muitos professores efectivos expatriados do ISIA, que também têm cargos administrativos, tiveram, até o momento, apenas 25% do salário, referente ao mês de Julho. Outros que são efectivos, porém desprovidos de cargos administrativos, receberam, até o momento, o salário do mês de Março,
“O ISIA pagou um salário apenas, diferente das demais instituições, como é ocaso da Universidade Gregório Semedo e Independente. Se não fosse pelo marido angolano que tenho, não sei o que estaria a comer nesse momento”, lamentou uma outra professora de nacionalidade cubana.
Quando entrevistávamos estes profissionais da educação, que vieram doutras terras para oferecer o seu saber para o melhor de Angola, o que não parou de chover aos nossos ouvidos foram lamúrias e o sentimento de abandono cravado nos olhos de quem fez muito pelos angolanos,
“apelamos ao bom-senso dos empresários e do Estado angolano, uma vez que as embaixadas não dão resposta ao nosso problema”, afirmou o professor Medina.
Professores indignados, muitas vezes chegaram a questionar-se se a luta do Executivo contra a corrupção não pode abranger os promotores destas instituições, uma vez que vê-se um certo tráfico de influência, impedindo soluções para casos que vão contra estes empresários que lesam os seus direitos. Os professores, cientes da tamanha injustiça que são alvo, entendem que o governo pode acabar com o favoritismo e amiguismo que há entre os donos destas instituições e algumas personalidades importantes do Executivo, que influenciam no bloqueio de processos contra estes empresários.
“Sabemos que o Presidente João Lourenço está a combater aqueles que infringiram as leis, por causa da sensação tranquila de impunidade, o mesmo acontece com grandes empresários que têm amigos ministros ou juízes, facilmente impedem qualquer problema que os envolva, então apelamos ao Executivo a tomar providências céleres para acudir este problema que assola a vida de pessoas que merecem alguma consideração em Angola”, afirmou uma socióloga Cabo-verdiana.
A nossa equipa de reportagem tentou entrar em contacto com a promotoria do ISIA, Atlântida, UOR e UNIA, mas não obteve resposta satisfatória.