Crescimento baixo e dívida elevada será o novo normal em África

A consultora Capital Economics alertou hoje, em Londres, que a maioria dos governos na África subsaariana vai ter de viver com dívida mais elevada e taxas de crescimento mais baixas na sequência da pandemia de covid-19.

“A maioria dos governos vai ter de viver com um peso da dívida mais elevado, que será sustentado à custa da austeridade e crescimento baixo, e os poucos que enfrentaram dificuldades realmente severas no futuro poderão seguir o exemplo da Zâmbia e optar por um Incumprimento Financeiro desordenado”, dizem os peritos londrinos numa nota enviada aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.

“Houve muito menos progresso no alívio da dívida para as economias africanas do que muitos antecipavam, e a diversidade de credores significa que o ‘Enquadramento Comum’ recentemente apresentado pelo G20 para ajudar os países mais endividados vai ter dificuldades em ganhar tracção”, dizem os analistas da Capital Economics.

Numa análise ao alívio da dívida e ao que se pode seguir para as economias africanas, esta consultora lembra que a média do rácio da dívida pública sobre o PIB passou de menos de 30 por cento, em 2010, para mais de 50 por cento no ano passado e escreve que “é claro que o nível vai aumentar ainda mais devido à crise actual, que surge quando os governos já estavam altamente endividados”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial tentaram ajudar os países que entraram na crise do novo coronavírus já com as finanças afectadas pela descida do preço das matérias primas e pelo pesado fardo da dívida, através de duas iniciativas principais, uma sobre a dívida ao próprio FMI, e outra sobre a dívida aos países e instituições financeiras multilaterais.

O Fundo de Alívio e Contenção de Catástrofe é, destinado aos países mais pobres e abarca apenas a dívida ao FMI, e a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), lançada pelo G20 com o apoio do FMI e o Banco Mundial, visava uma moratória sobre os pagamentos até final deste ano, e entretanto prolongada para Junho, pelo menos.

O progresso destas iniciativas, no entanto, “não foi tão rápido ou abrangente como muitos esperavam”, diz a Capital Economics, salientando que os governos ficaram preocupados com as consequências negativas de aderirem à DSSI e, por outro lado, a China preferiu abordar a questão bilateralmente, isto para além de a DSSI não ter conseguido a adesão dos credores privados.

Ainda assim, acrescentam, há medidas em curso para ajudar os países africanos a lidarem com as consequências económicas da covid-19, que potenciou os problemas que já existiam nestas economias, nomeadamente a quebra dos preços das matérias primas e o alto nível de endividamento.

O FMI já propôs uma nova arquitectura mundial da dívida, e há vários governantes a defenderem um cancelamento da dívida africana como forma de ajudar os governos a canalizarem as finanças para o combate à pandemia, para além do ‘Enquadramento Comum’ apresentado pelo G20 na reunião final da presidência saudita, este mês, elencam os analistas, chamando a atenção para a importância da China.

“Uma lição que se pode tirar dos desenvolvimentos recentes é que, desde que os credores privados continuem a desconfiar da China e a China continuar a fazer-se de difícil, os governos podem ser obrigados a subir a fasquia para garantirem uma reestruturação da dívida, mas como se viu na Zâmbia, isso acarreta consequências negativas e potencialmente um custo mais elevado da dívida”, concluem.

Fonte: Angop

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