Corrupção: Odebrecht quer devolver milhões de dólares da corrupção

Construtora brasileira ofereceu-se para compensar o Estado angolano em troca do fim de ações judiciais.

Receosa de ver o seu nome envolvido na vaga de casos de corrupção em Angola, a empresa brasileira Odebrecht acaba de apresentar ao Governo angolano uma proposta em que se mostra disposta a pagar uma indemnização por eventuais danos causados em vários contratos de empreitadas celebrados no país.
 
Em carta assinada pelo seu presidente para África, Marcos Machado, como contrapartida do reconhecimento de práticas ilícitas, a construtora propõe que o Estado angolano se abstenha de intentar qualquer ação criminal ou cível e administrativa contra a empresa ou seus altos funcionários.
 
Com esta jogada, a Odebrecht, que é acusada de nunca ter apresentado contas, antecipa-se ao desencadeamento de eventuais processos judiciais que as autoridades angolanas poderiam mover também contra altas figuras do Estado angolano beneficiárias de chorudas comissões durante os anos de ouro em que a construtora operou em Angola.
 
“Querem fazer o mesmo que fizeram em Moçambique”, revelou ao Expresso uma fonte do Ministério das Relações Exteriores de Angola. “São milhões que o próprio Estado tem dificuldades em apanhar o rasto, e a Odebrecht, sabendo disso, entregou a iniciativa”, disse um conhecido jurista.
 
caso está entregue à Procuradoria-Geral da República e dependente de um levantamento exaustivo das eventuais perdas causadas ao Estado em atos de suborno promovidos pela multinacional brasileira através de várias linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).


Em causa está um vasto pacote de obras públicas de diversa dimensão e natureza que, durante anos, com 24 mil empregados, fizeram da Odebrecht a maior construtora a operar em Angola. “Houve alturas em que, sozinha, absorvia mais obras do que o conjunto das construtoras portuguesas”, disse um técnico do Laboratório de Engenharia.

Se o ponto de partida foi a construção da barragem de Kapanda, na província de Malanje, com uma derrapagem de milhões de dólares, em 2014, o pacote de obras da Odebrecht incluía também a construção de estradas, dos aeroportos de Benguela e Namibe, da barragem de Caculo Cabaça, do alteamento da barragem de Cambambe e da urbanização de condomínios em Talatona, enclave da nova classe de ricos.

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