A dívida pública ainda é o maior negócio da banca, embora alguns bancos tentem inverter o quadro, tido complexo para os investidores privados, sobretudo nesta fase.
A concessão de crédito continua a ser um dos dilemas da banca, como indica o rácio de transformação dos maiores bancos do sistema (excepto do Banco de Poupança e Crédito [BPC] por falta de publicação das contas), referente ao terceiro trimestre de 2020, em que o BIC, segundo cálculos do Jornal Mercado, apresenta uma taxa acima da mínima (ideal) recomendada.
O rácio de transformação espelha o peso do crédito concedido pelos bancos em função dos depósitos totais, por isso é considerado o indicador de alavancagem financeira (uso de recursos com custo financeiro fixos para aumentar o retorno dos accionistas) mais relevante.
Relativamente aos quatro maiores bancos do sistema, o rácio de transformação de crédito em depósitos do BIC, no terceiro trimestre de 2020, situou-se em 48,6%, mais 1,3 ponto percentual (p.p), face ao mesmo período de 2019. O mínimo recomendado, segundo o contabilista bancário, Joaquim Gouveia, é de 40%.
A carteira de crédito do BIC ficou calculada em cerca de 640,5 mil milhões Kz, tendo representado um aumento de (aproximadamente) 34%, quando comparado com o terceiro trimestre do ano passado. Os depósitos estavam quantificados em pelo menos 1,3 biliões Kz.
O rácio de crédito sobre depósito do BAI, no terceiro trimestre de 2020, foi de 14,4%, menos 8,4 p.p, relativamente ao período homólogo. A carteira de crédito estimou-se em 364,3 mil milhões Kz, o que reflecte uma diminuição de quase 16,8%. Os depósitos ficaram avaliados em perto de 2,5 biliões Kz.
No BFA, a taxa do rácio de transformação fixou-se em 16,6%, menos 4,7 p.p, face ao exercício análogo. O volume de crédito do exercício fora calculado em cerca de 321,3 mil milhões Kz, um incremento de (aproximadamente) 4,4%. O montante de recursos obtidos de clientes (depósitos) foi de cerca de 1,9 biliões Kz.
O Banco Millennium Atlântico (BMA) registou uma taxa de 33,5%, mais 3,39 p.p, em relação ao período homólogo. Ainda no terceiro trimestre de 2020, a carteira de crédito daquele banco ficou calculada em cerca de 462,7 mil milhões Kz, reflectindo um aumento de 11,3%. Os depósitos fixaram-se em quase 1,3 biliões Kz.
Os dados descritos asseguram que o BIC, no grupo dos principais bancos, é o que mais crédito concedeu no terceiro trimestre de 2020. O BAI é o que menos financiou o sector privado da economia, numa fase em que as economias mundiais ainda se debatem com os efeitos da pandemia do coronavírus (Sars-Cov-2).
Alto índice de alavancagem,de acordo ainda com Joaquim Gouveia, pode aumentar o retorno, mas também significa aumento de risco e eventual exposição à insolvência. “O exemplo mais evidente para o caso de Angola é BPC”.
Por definição, explicou, quanto maior o valor do rácio de Transformação, maior é o grau de alavancagem do Banco. “Pelas taxas, podemos chegar a conclusão de que os bancos mencionados podem contribuir mais, financiando os projectos do sector privado”.
Apesar de a alavancagem financeira permitir a maximização dos efeitos da variação do lucro operacional sobre os lucros por acção, esclarece o contabilista, a decisão de usá-la não depende da rentabilidade dos investimentos a serem realizados com recursos de empréstimos, mas também dos custos.
“É fundamental analisar a influência do aumento do endividamento na estrutura financeira do banco, assim como o risco envolvido a curto, médio e longo prazo. O endividamento pode se mostrar atractivo, caso o custo for menor do que se espera obter com a aplicação dos recursos oriundos dos empréstimos”, disse.
Continuando, a alavancagem financeira será benéfica se o capital tomado de terceiros produzir efeitos positivos sobre o património líquido, ou seja, “se o património líquido for superior ao retorno sobre o activo.”
Também disse que de nada adianta se a captação de recursos a longo prazo, se o retorno sobre o património líquido recuasse à posição anterior à captação.
Aposta na dívida pública
Em sentido contrário, os bancos que menos créditos concederam no terceiro trimestre de 2020 são os maiores financiadores do Estado. Os títulos e valores mobiliários no BAI estavam calculados em cerca de 1,3 biliões Kz, o que reflecte um aumento de 44%, face ao período homólogo.
A dívida pública no BFA calculou-se em perto de 1,2 biliões Kz, um acréscimo de 33,8% quando comparado com o período homólogo.
No BIC, os títulos e valores mobiliários estavam cifrados em 901,9 mil milhões Kz (30,6%), ao passo que no BMA – 651 mil milhões Kz (26,5%).